quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Amores e Filmes

Ela se distraiu um pouco do filme que assistiam, pra perceber ele.
Já tinha perdido as contas de quantos tinham assistido juntos. Mas ele nunca mudou aquele jeito dele esquecer a mão na sua perna e de vez em quando acariciar com o polegar, com o jeito mais displicente de dizer o quanto a amava enquanto ria de uma cena.
Sem pensar, ela tentou ajeitar aquele cabelo que sempre insistiu em cair na cara dele e ele sempre pareceu não se incomodar. E se olharam. Ele sorriu e voltou a olhar a tela.
Ela sorriu e percebeu o quanto ele era especial. E continuou a olhar aquele homem e tentar lembrar quando de fato se apaixonou por ele. Não lembrou.
Talvez porque fosse dificil se lembrar da vida dela sem ele. E talvez o ponto logo antes dela lembrar de qualquer coisa deles, fosse exatamente o momento em que se apaixonou.
Mas não lembrou. Porque não tinha lembrança sem ele. Não que tivesse esquecido, mas simplesmente não valiam a pena de serem lembradas. E ela preferia assim, sem saber quando se apaixonou para talvez dizer que assim fora a vida inteira, o que não deixava de ser verdade.
Lembrou que, no princípio, ele doía, e não era culpa dele. Ele doía porque ela tinha medo de permitir que ele a amasse. Já tinha sofrido demais, mas quem disse que ele também não? A diferença é que ele pegou as decepções e transformou em esperanças, enquanto ela tinha construido um muro com todos os seus fracassos. Mas fracassou também em mantê-lo erguido diante de toda aquela esperança. E hoje agradecia, pelo seu fracasso mais bem sucedido.
Tinham acabado de jantar e a mesa ainda estava posta, porque ele sempre a convencia a deixar aquilo pra depois, prometendo ajudar. Coisa que nunca fazia, mas ela não se importava, pois sempre achou melhor lavar a louça enquanto ele dormia, e tê-lo ao seu lado enquanto ele estava acordado.
Ele começou a ficar inquieto e ela entendeu. Era o jeito dele pedir colo. O que ele nunca pediu de fato, mas ela sempre soube. Ela se ajeitou. E ele deitou, meio que automaticamente ainda vendo o filme e a abraçando pela cintura. Ela adorava o jeito que ele roçava a cabeça em seu peito, pra achar a posição ideal, porque bagunçava o cabelo dele, e ela tinha motivos pra fazer cafuné, fingindo pentea-lo. Não que ela precisasse de motivos, mas ela gostava de tê-los.
E acabariam dormindo ali, abraçados no chão da sala, com a televisão ligada e sem cobertor.
Então ela lembrou que essa noite a louça ia ter que esperar ele acordar, pois mesmo com ele dormindo, ela não conseguiria deixá-lo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal




Meu Natal foi comemorado (in)devidamente em Agosto.

Mas o mundo instiste nesse de Dezembro. Então...

Feliz Natal. (Aos que comemoraram comigo em Agosto: Feliz Natal de novo...)


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Enquanto ela dormia.

Ele sentou ao lado da cama, enquanto ela ainda dormia. Teve vontade de acender um cigarro, mas lembrou que já não mais fumava há anos, por causa dela. Não que ela tenha pedido. Mas mesmo assim ela o fez parar.

Olhando para ela, que sempre dormiu com o dedo polegar sobre a boca ele viu o quanto sempre achou isso encantador. Pois parecia que ela pensava nele, mesmo dormindo.

E não conseguia deixar de encarar aquela pessoa, que dormindo, não pedia nada a ele. Não pedia a ele para ama-la, não pedia a ele para ficar. E percebeu que mesmo acordada, ela nunca fez isso, e talvez exatamente por isso ele tenha querido fazer tudo o que ela não pedia.

Deu um trago imaginário e recordou de quando se encontraram. Ele ainda apaixonado por outra pessoa e ela ainda com feridas de uma outra história. E se reconheceram e se aceitaram. E nunca falaram de amor.

Agora, anos depois, ele se deu conta disso. Nunca falaram de amor.

Sempre olharam com estranheza a mania que meio mundo tem em dizer que ama, sempre, incondicionalmente, e a cada duas semanas, pessoas diferentes. Amam perdidamente aquele namorado, terminam e na outra semana já amam para sempre o pretendente a namorado seguinte. Andam amando muito por ai, e eles sempre discordaram desse amor fácil demais.

Sempre concordaram em muita coisa, e quando discordavam era voraz. E adoravam discutir, porque sempre souberam fazer isso. Lembrou dela com raiva e sorriu, porque às vezes fazia de propósito, simplesmente achava lindo o rosto daquela mulher enfurecida. E ela quase nunca ficava, por isso ele tinha que forçar. O que não significava que ela fosse doce, sabia no entanto, ser encantadora em coisas que o mundo não percebia, muitas vezes nem ela. Mas ele sempre percebeu.

Achava ela estranha, ainda hoje achava. Estranhava o fato dela não ter vergonha de ficar na fila do algodão doce, enquanto puxava assunto com uma criança de 6 anos. Ou de sentar na calçada pra conversar com um vira lata e olhar pra ele pedindo 'podemos ficar com o cão?', mesmo sabendo que não podiam. Dela gostar de musicais antigos da mesma forma que gosta de Star Wars. Mas princialmente estranhava ela ter sido a primeira pessoa com quem ele quis dançar abraçado na cozinha, depois de tê-la visto tantas vezes rodopiando sozinha enquanto esperava a comida esquentar. Deveria ter feito isso mais vezes, desde sempre, ele pensou.

Odiava quando ela ficava com preguiça de contar alguma coisa, no meio da história, e desistia. E sempre se preocupou com ela sozinha pelas ruas, mas se divertia quando ela voltava, porque uma ida a padaria sempre rendia boas histórias enquanto tomavam café, se ela resolvesse contar a história inteira.

Sabia que ela gostava de abraço, então sempre que podia, ele a abraçava, sem motivo. Mesmo que fosse no meio de uma conversa sobre futebol. E ela sempre se surpreendia e ria, porque gostava e ele ria, porque gostava de ver ela rindo e riam juntos, porque ali sabiam que o 'ser feliz pra sempre' é só ser feliz, naquele momento, que fica pra sempre.

Lembrou do quanto ele a fez chorar, do tanto ela o feriu e que nunca mais conversaram sobre isso, porque algumas coisas só precisam passar. E passam. Passam, pra que a vida possa continuar.

Sempre soube o tanto que ela o conhecia, e tinha medo disso. Pois ela o conhecia melhor do que ele mesmo, o que não significava que ela o entendesse, mas ainda assim, ela o aceitava.

Teve ímpetos de cobri-la, numa demonstração de carinho, mas ele também sabia dela, e sabia que ela sempre dormia assim, meio descoberta. Então o carinho maior seria deixa-la exatamente como ela estava, meio descoberta. E ele deixou.

Tomou uma decisão e procurou algo no bolso. Percebeu que ali não havia nenhuma caixinha, pois ela nunca precisou de nenhum anel.

Mas quando acordasse, ela saberia, finalmente, que sempre foi amor.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Betty, a feia.

Bem assim, mesmo...

Tem um cara né? Tá... ja peguei, há 1000 anos... E não vejo há uns 999.

Mas era um cara, que eu encontrava quase toda semana, conversava, tomava vinho até as 5 da manhã e blablablá... Amigo de T., alias eu só encontrava com ele por causa dela, e por causa da boa comida e do bom vinho e do bom papo...enfim.

Por conta de coisas da vida não nos vimos mais e hoje, por conta do estacionamento reduzido desse meu bairro de bosta, pra podermos estacionar e ir na Devassa, precisamos pedir socorro pra ele, que com toda sua solicitude, nos acudiu. Até estacionou o carro.

Eu meio sem graça falei oi, ele falou oi... Mas T. não resistiu:

- você lembra de Marcella né?

ele:
-não!

e ela:
- como não? ela vinha aqui toda semana...

Quando eu me de conta só vi um rosto alarmardo com a mão na boca...parado uns 3 metros atrás da gente...

-Marcella? Nããããão! você não é a Marcella... Aquela Marcella? Não pode ser...Perae gente... Pára tudo...

Depois disso ele só conseguiu dizer:

- Ó... Parabéns viu? Parabéns mesmo...

E nem é meu aniversário... Mas tomei 3 IPA's pra comemorar...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ohn

Acabo de me dar conta de que o voltar tem uma vantagem.
Sabe o espaço vazio ao meu lado na cama? GONE.
(mas aposto que ele vai insistir em dormir do mesmo lado que eu...e eu, lógico, vou ceder, e quando eu for pro outro lado ele vai junto...Sabecoméquiéné? incomodar, uma arte...Que ele domina como ninguém.)
rá!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Tashoim

Já repararam que quase tudo que é bom nessa vida te deixa suado, lambusado, melecado, sujo, pegajoso e tals?
E sim, sexo é uma delas. (bem... se vocês nunca suaram, se lambusaram e etc., só lamento...)
Mas não to falando disso... (parei pra pensar uns segundos, confesso, mas voltei à ideia inicial...)
Voltando pra casa encontrei um cão, um cão não, um bichim picurrucho com cara de ama eu que vcs não tem noção... Filhote de labrador. Tai uma coisa que me faz perder a compostura.
Não importa se eu to de vestido de festa, se o dono ta com pressa...A roupa eu lavo e o dono vai ter que esperar...
Filhote né? Pula, brinca, baba... Ainda mais se você acha que colocar a mão dentro da boca do cachorro é mó mais legal... Eu acho. Aqueles dentinhos afiados que te arranham...muito legal.
Quando eu vi eu tava agachada no meio da rua, com um cão indeciso se babava no meu braço ou na minha cara...
Eu não posso com tashoim... É mais forte que eu... Lembro alguns fatos que percebo agora que podem falar contra mim:

Caso 1:
Encontrei um caozim na rua..levei pra casa e ele mordeu minha mãe. A coitada teve que tomar anti-rábica por sei lá quantos dias, mas eu não me conformei com o fato dela ter soltado o bichim de novo na rua... Tadinho. A culpa foi dela de ter chegado perto dele, a mim ele não mordeu.

Caso 2:
Churrasco... tipo, primeira vez que ia ter contato com uns amigos do pegueti, você precisa se comportar...ser sociável...o que eu encontro? Um cãozim... "Ó gente, prazer, eu sou Marcella e vou ali ficar com o cachorro uns 40 minutos". E o cara tendo que se explicar "é... ela gosta de cachorro..." enquanto eu me divertia deixando ele mordiscar meu braço, arranhar minha perna, babar minha mão...

Caso 3:
Minha irmã encontrou um dog alemão e colocou pra dentro do quintal. Eu tava pescando e recebo uma ligação de que tinha um cachorro gigante na minha casa, juntamos tudo em menos de 10 segundos e corremos pra casa. Como achar o dono? Passeando com ele na rua, pra ver se alguém sabia de quem era... Um cachorro 3 vezes maior que eu. Mas achei.

Caso 4:
O dia que Simba chegou lá em casa e fizeram ele dormir na área de serviço, ele chorava lá e eu no quarto...o ex só falava: "caaalma, ele tá bem"..."taaa nãããão, tá sozinho, com medo, chorando, isso não é coisa que se faaaaaaça" (entre mil soluços) e dali pra frente, ele só dormiu no meu pé.

Caso 5:
T., no meio da noite, dormindo na minha casa (quando eu morava com meus pais e com simba), vai ao banheiro e quando volta percebe que perdeu sua cama pro cão... "Ah T. se espreme ai no cantinho que cabe". Porque ELE decide com quem vai dormir. Se ele quis o colchão dela, eu acato a escolha.

Caso 6:
Eu cheia de pelo de cachorro digitando isso.


É... Preciso tomar banho.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Voltar

Hoje, enquanto me dava conta de que o fim do mundo parece de fato uma boa idéia, me dei conta também da batalha que eu tenho pela frente.

Imagina a cena: Minha irmã vendo um dvd do Jorge Vercilo (Vercilio, sei la, tenho vergonha até de procurar isso no google), meu sobrinho correndo atrás de Simba com um rodo na mão, minha mãe gritando para o meu sobrinho que ele não pode fazer isso, meu pai olhando pro ventilador de teto com uma cara de reprovação e depois dizendo “ah, você tá ai... Eu achei que o ventilador tava ligado pra nada e já ia reclamar”, meu irmão insistindo que nat geo, apesar de ser legendado, precisa ser assistido no último volume e eu, ali no meio da melhor definição de caos.

Pensando em como eu gosto da minha liberdade...

Eu nunca dei muita satisfação de nada pra ninguém, e hoje quando eu canso é só sumir. E tenho pra onde sumir. Lembro da primeira vez que a minha mãe reclamou do meu horário de chegar em casa. Eu só disse: “Tivesse me colocado rédeas antes. Agora que me acostumei, guenta”. Ela foi obrigada a concordar. Mas eu era sensata, e sabia não perder pontos com quem quer que fosse. No entanto, pedir permissão nunca foi meu forte. Até o “vou-morar-com-o-namorado” foi um comunicado, meio que já arrumando as malas e pedindo pra dad me ajudar a levar, mom me dando um fogão e minha irmã se desfazendo de parte do enxoval que ela não ia precisar tão cedo... Assim como o “estou-voltando-pra-casa” já me ajeitando na sala e pedindo pra dad ajudar a pegar as malas de volta, e logo em seguida o “vou-morar-no-outro-quarteirão”, mas ai ninguém me ajudou, eu tive que ir sozinha, porque afinal, tava cansando a todo mundo o entra e sai de malas. Eu sempre tive uma maneira meio "já to fazendo" de viver e se eu não grito é porque tá tudo bem e as vezes tá tudo bem mesmo quando eu grito. Eu não sou do tipo viaja e liga pra dizer que chegou bem, ou que diz que vai dormir fora de casa. E não é por maldade, eu esqueço mesmo. A parte preocupada liga, eu atendo (a maioria das vezes eu atendo) e digo que estou bem. Aos poucos eles foram se acostumando comigo, o que não impedia eu ter que ouvir, ou fingir que ouvia, algumas reclamações.

Sempre foi assim, e agora eu me acostumei ainda mais com a minha vida sendo só minha. Eu apareço quando eu quero, vou embora quando preciso.

E... No meio de tudo isso a palavra volta me pareceu meio assustadora.
Voltar à não-liberdade.
É preciso de um bom motivo para voltar.

Na teoria ele é muito bom. Ok, nem na teoria ele é tão bom assim e tem muito mais contras do que prós... E os prós dele só fazem sentido pra mim, eu acho...

Tem que fazer pra mais alguém?

Recomeçar. Sempre dá medo. Dessa vez, coragem é o que não me falta. Mas to pressentindo que vai faltar a paciência...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O outro lado do Atlântico

Em três semanas sua vida pode mudar e permanecer a mesma?
A minha pode.
Engraçado como a gente pensa em tomar certas decisões e sabe-se lá porque deixa elas de lado. Mas elas voltam sempre a bater no nosso ombro para nos lembrar que ainda estão ali, por enquanto não tomadas, sendo só decisões.
Eu há algum tempo tinha pensado em algumas, e como aquela menina da 4ª série (essa aqui) , falado com todo mundo, menos com a pessoa que seria mais afetada. E é sempre assim, você toma a coragem, e é exatamente nesse momento que o mundo começa a conspirar contra, insistindo que as decisões não foram feitas para mim. Normal, pelo menos no meu mundo.
Algumas coisas parecem realmente ser um passo para trás. E são. No meu caso são alguns passos para o lado, para poder atravessar o Altântico. Por mais que todo mundo olhe com ceticismo, exclamem que tem "medo", ou simplesmente digam que eu sou louca. É o que eu quero.
E nessas últimas semanas foi tudo se encaixando, até que semana passada, no pior dia da semana, uma segunda-feira, eu falei o que tinha que ser dito. Eu tenho uma teoria: escolha a pior hora, porque quando a coisa tem tudo pra dar errado, é capaz de dar certo. E deu. (sempre funciona...)
Agora não dá pra voltar atrás.
Mas por incrível que pareça, a vida continua a mesma. E não vai mudar.

...não por enquanto. Mas o outro lado do Atlântico está ali, ainda. Como sempre esteve, mesmo eu tendo temporariamente desistido dele. E sempre vai estar, até o dia que eu possa, de fato, ir.

E é reconfortante saber que, tanto eu, quanto ele, pudemos e podemos esperar.