quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Band-Aid colorido



Andando pela rua passei por uma menininha com uns 5 band-aids coloridos espalhados pelo braço. Ela estava toda feliz em exibir os curativos e os machucados que não foram completamente cobertos por eles. Quando percebeu que eu estava olhando ficou ainda mais exibida e fez questão de verificar se eu tinha visto todos eles, passando o dedinho em cada um e olhando de volta pra mim. Eram todos coloridos e cheio de figurinhas bonitas... Achei estranho a felicidade da menininha em exibir os machucados. Mas sorri de volta para ela ficar feliz.

Depois fiquei pensando... Não é estranho. A gente desde criança exibe machucado, e talvez por isso a gente seja acostumado a ainda ficar exibindo eles por ai. Nós não cansamos de mostrar machucados e curativos a todo instante. Só que hoje a gente exibe em rede social, blog, outdoor.

Tanta gente reclama da vida, reclama do mundo, reclama da sorte, reclama do tempo...

Eu mesmo, quantos machucados eu exibo aqui?
Sempre disse que é difícil escrever felicidade.
É muito mais fácil escrever sobre aqueles relacionamentos não correspondidos, mal correspondidos ou quase correspondidos. 

A gente exibe o sapato que machuca, a calça que não cabe, o cara que não presta. E o cara que presta mas não gosta de você, o cara que presta (?) mas gosta de você e da torcida do flamengo, o cara que você gostaria que prestasse. O amigo que te traiu, a pessoa que te decepcionou.

Indiretas, fotos bonitas e frases feitas para pessoas que sequer vão ler.

A gente faz questão exibir revolta, de gritar de raiva, de dor, de ódio. De mostrar curativo em foto de balada, em mais frases feitas e em outras fotos bonitas. Até aquele arranjo de flores vergonhoso que se manda no trabalho da ex, depois da briga, pra exibir arrependimento. É brega, mas é mostrar machucado.

Gostamos de deixar aquela parte do machucado destapado, algumas vezes por orgulho da ferida. E talvez a gente não se dê conta do tanto de curativo com os quais andamos pelas ruas. 

No fim das contas, acabei percebendo que no fundo todo mundo é até hoje exatamente como a menininha.

...A única coisa que muda são os band-aids coloridos.