sábado, 7 de janeiro de 2012

Crocante e irresistível


O dia já começa preocupante. Recebo uma ligação as 6:30 da manhã, de uma pessoa que não ligaria às 6:30 da manhã, justo quando meu celular está sem sinal. Coisa que ele acha 5 minutos depois. Recebo a mensagem que alguém ligou, retorno e ninguém atende. Fico puta da vida. Normal. Logo depois recebo uma mensagem de voz com um silêncio de 2 minutos, ai já bate a preocupação com a vida alheia. Mas legal mesmo é ficar inventando histórias - uma pior que a outra - até meio dia, quando a pessoa aparece e diz "ah, devo ter te ligado sem querer, quando fui desligar o despertador, desculpa?". Nem procuro saber os meandros disso, não dou esporro, até porque pediram desculpas antes disso, e se ele se enganou por causa do despertador, eu fui a última pessoa que ele ligou (o que é fofo), então me resumo ao "ok, mas que isso não se repita" (porque posso achar fofo, mas tenho que colocar limites mesmo assim), e vejo o meu pai saindo do meu corpo logo após dizer isso...
O resto do dia corre bem, mandando pessoas à merda em pensamento enquanto externo um "não? ok, então", como em quase todos os dias da minha vida. Tenho que trabalhar até mais tarde e por incrível que pareça esse é o ponto alto do meu dia. Eu realmente não ligo de trabalhar até mais tarde, ainda mais quando roubo um lenço, amarro na cabeça e fico linda. Ganho ele de presente do colega de trabalho: "é seu! fala com ela que eu que te dei". Mas como ainda não foi universalmente acordado que pessoas podem dar objetos de outras, tenho que devolver o lenço pra dona. Ele até tentou, mas era muito magrinho pra ameaçá-la fisicamente. Uma pena, eu realmente fiquei bem com ele - com o lenço, no caso.
Quando estamos indo embora, começa uma chuva torrencial, o que era de se esperar, já que estamos falando de um dia meu. Como quase todos que estavam trabalhando moram da direção oposta à minha casa e a única pessoa que mora para a mesma direção era o único homem que estava lá, o que decidiram? Marcella vai com ele e o motorista leva o restante. Isso significa eu indo de ônibus para casa, mesmo que "protegida", porque a moto dele tinha ficado dentro da usina (eu não teria a sorte de pegar carona de moto na chuva, não mesmo...). Bem, não esperava algo diferente. Poderia ser pior. Eu poderia ter que ir sozinha. Enfim, nos deixam no terminal e aquele monte de ônibus andando pra lá e pra cá realmente me deixa um pouco aterrorizada. O colega percebe que estou morrendo de medo de atravessar a rua e pega no meu braço "vamos... eu te ajudo". Sério, eu realmente devo ter 5 anos. 
Enfim, chego em casa às 10 da noite e tenho que passear com o cão. Ainda chove, mas as necessidades fisiológicas do cão não dependem do meu cansaço ou da meteorologia. Isso significa: Marcella, na chuva, cansada, com o cão. É lógico que, de novo, eu me esqueço que estou com uma blusa branca. E, de novo, participo do concurso "garota camiseta molhada passeando com o cão"... e seria legal se esse fosse o maior dos meus problemas. O que eu percebo logo, logo, que não é. 
Fico feliz, porque o cão percebe que ta chovendo e decide fazer logo seu poop. Recolho e saio felizona já que o lixo está logo ali, do outro lado da rua.
Chuva, caso vocês não saibam, deixam o chão escorregadio. Não sabiam? Pois eu descobri. E sabe o que eu descobri também? Que aquela maldita faixa de pedestre é pintada com uma tinta incrivelmente lisa...  Foi uma cena tocante. A rua vazia... Seria menos humilhante se não tivesse passando UM carro. E um carro de uma pessoa educada. Que parou para eu atravessar. Simba ficou tão feliz que me puxou... E eu tive que dar um passo um pouco mais rápido, o que aumentou também a rapidez da minha queda, enquanto o saquinho de cocô do cão voava. Eu não sei direito se cai de joelho, se caí de lado... Mas eu ganharia o oscar do tombo mais ridiculo, caso ele existisse. O homem do carro, lógico, era um gato. Não, não seria uma velha, não seria um gordo, não seria uma mulher fubazenta... Não. Para me ver me estatelando do chão, o motorista educado tinha que ser um gato. E não só cair, mas tinha que me ver cair e ver Simba ficar preocupado e lamber minha cara pra ver se eu tava bem. Ou seja, o cara gato me viu caída e lambida. Essa sou eu, super sexy. Levantei, tentei pegar o saquinho mais rapido possivel e ir embora... Mas o cara saiu do carro. Lógico, ele era educado. Depois eu percebi que a parte da camiseta branca molhada, pode ter ajudado um pouco, mas eu acho que foi só preocupação mesmo. E ainda quis ser simpático, perguntou do cão, disse que era muita disposição sair na chuva com ele, e que se eu era assim com o cão, imagina quando fosse mãe... Ma oe? É moço, vou ser uma ótima mãe. Se eu conseguir chegar até o próximo solsticio, que nem tá tão longe assim. E ó, você é gato, mas está chovendo, você me viu cair e viu o cão lamber minha cara, então não vou te dar mole mesmo e com certeza você não ta querendo o telefone dessa desajustada. Vou embora tá?  Isso significa que não vou ficar aqui conversando com você, na chuva, suja, e com o cocô do cão na mão - já que eu não tinha conseguido atravessar a rua ainda. 
Fui embora. Não antes de ouvir um "cuidado com as outras faixas de pedestres, elas são muito perigosas" acompanhada de uma piscadinha.
Sério? Quase mandei à merda. Mas tenho dificuldade de mandar pessoas bonitas à merda. O mundo anda tão complicado, então pelo menos as bonitas eu ainda quero ver por aqui.
Logo que pude liguei para alguém que poderia falar "Ó tadinha, você está bem?" e ouvi um "Sério? como conseguiu sobreviver até os 30? Em menos de um mês você já bateu a cabeça na pia, rasgou sua lente no shopping (essa eu tenho que contar um outro dia), ficou com os dois joelhos roxos e prendeu o dedo com uma chave..." É, tudo o que eu precisava era de estatistica. Mesmo. Estatisticamente eu fico puta muito fácil também. Mandei catar coquinho. Ouço pela segunda vez no dia um "desculpa" e antes que dê problemas essa abundância de desculpas, crio a regra de que esse é o máximo que eu consigo conviver. Um dia, duas desculpas, não mais que isso. Faço charme e ouço depois de meia hora um "tadinha". Não é bom, mas é o que tem pra hoje.
Dormi toda roxa e lógico que acordei atrasada no dia seguinte, porque o celular resolveu que funcionar é uma coisa superestimada e apagou. E como ele pra mim, mais que um meio de comunicação é um meio de acordar para a vida, acabei dormindo mais que a cama.
Mas ai eu vi que o dia seguinte às vezes pode compensar. Cheguei no trabalho e o colega, que nem deveria estar lá, uma vez que nem trabalha no mesmo escritório, aparece do nada dizendo: "tem uma coisa pra você na sua mesa". E olha o que encontrei....

Crocante e Irresistível. =)

Quase tão doce quanto 2012 tá prometendo ser... Porque eu vou continuar caindo, mas sempre vou querer Bis.