quinta-feira, 21 de março de 2013

Manias


Ela tinha a mania feia de rir alto. Essa mania besta de falar de sexo como quem fala de bordado. De beber mais que muito homem. De não se importar com a mesa do lado. De falar palavrão. Mania boba de achar mais legal um bombom comprado de última hora do que um presente caro, só por saber que foi lembrada no meio do dia, mesmo não gostando muito de chocolate.
Mania de falar demais. Mania de esquecer o que fala. De ficar com preguiça de contar histórias. De se exceder, sempre. De ter um humor reprovável.
Tinha mania de ser sempre muito. De falar que gosta, sem pensar. De mandar à merda. De não ser menininha, mas mesmo assim querer carinho.
Tinha mania de não saber jogar. De preferir perder.
Mania de aprender com seus erros, reconhecê-los e de não se arrepender de nenhum deles.
Mania de zombar dela mesmo. De brincar com seus defeitos para aprender a lidar com eles. Mania de não se importar demais com seus dentes grandes, sua pouca visão e seus quilos a mais.
Sempre teve mania de não fazer sentido. De ser instável. De gostar de gente fora da caixinha. De ter amigos escolhidos pelo caráter e não pela sexualidade. Mania de ter opinião, mas de não ter vergonha de mudar alguma delas.
Mania de ter critérios esquisitos, para homens, comida, lugares. Mania de gostar de abraço. Mania de querer ouvir coisa bonita dita no meio da conversa sobre como foi o dia.
De gostar de surpresa, da mesma forma que gosta de rotina.
Mania de gostar de se divertir. De dançar de um jeito esquisito.
Mania de deixar as pessoas sem graça quando fala que já fez alguma coisa que elas reprovam, de propósito.
Tinha mania de escolher errado, de ser errada.
Tinha mania de não ser a mulher que todo homem sonhou. De ser a mulher que quase nenhum consegue lidar. E que só a pessoa certa vai conseguir entender.
Mas ela sempre teve a mania de saber que pode tentar de novo.
E ficou triste por ele, que só tinha a mania de ter medo de mudar.