quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Adeus, sem remorsos.


No creo en las brujas, pero que las hay, las hay.
Então o branco até na unha, para deixar a zica de 2014 em 2014.
Já tomei meu banho de mar para tirar as más energias e simbora que meia noite a gente recomeça. Como diz Quintana, o bom das segundas feiras, do primeiro de cada mês e do primeiro do ano é que nos dão a ilusão de que a vida se renova... 
Para mim, esse ano já vai tarde. Em outras épocas eu teria acabado com ele em agosto (ou antes), como já fiz uma vez... Mas dessa vez esperei ele terminar de verdade, de picardia.  
2014 foi um ano de perdas, de decepções e de decisões. Porque eu não sou de reclamar muito e ficar de mimimi, sem fazer nada a respeito do que me incomoda. Se não estou bem eu mudo. Isso 2014 me ensinou: a não ter medo. E por isso eu preciso agradecer. 
Foi um ano em que a morte esteve ao meu lado, perdi minha madrinha e minha mãe em menos de 3 meses. E perto disso, qualquer outra coisa ruim que tenha me acontecido, fica pequeno.
E por isso eu também tenho que agradecer.  
Porque me fez mais viva. 

A lição de 2014 é: "A gente sobrevive."
Espero que a de 2015 seja : "...E recomeça mil vezes melhor."
 
O bom de um ano ruim é que a gente percebe quem é de verdade para a gente. Obrigado aos que se reaproximaram, aos que chegaram e aos que nunca foram embora.
E na foto também, o simbolismo da única coisa boa desse ano, que na verdade é uma promessa para o ano que vem.

A certeza de que em 2015 começa o primeiro ano do resto de nossas vidas.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Meias de dedinhos não afugentam os homens apaixonados

Uma das grandes diferenças entre eu e meu bairro é que ele enobreceu. Eu não.
Eu morava em um bairro onde conseguia jogar queimada na rua sem ser incomodada por nenhum carro e hoje moro em um bairro onde os restaurantes tem vallet park, padarias são gourmet e os pet shops fazem festa de cachorro. Sem sair do mesmo bairro.
Ou seja, ele ficou nojento e eu continuo pouco me fudendo.
Continuo andando com meu cachorro enquanto espero tintura do cabelo agir, de pijamas por baixo do moleton e muitas vezes esqueço de escovar os cabelos antes de sair com ele pela manhã.

E em um um bairro frufru, pensei com meus botões que se eu saísse assim...

(Esse é Simba, com vergonha por eu usar as
minhas meias de dedinhos rosa em publico)


...não teria grandes incômodos, fora os olhares atravessados das quarentonas boca-de-sapo-de-botox e das patricinhas glúten free à caminho da academia.
Ledo engano.

Estava quase chegando em casa sã e salva, fora os tombos do cachorro e as meia interações forçadas com donos de outros cães. Quando atravessando a última rua vejo um senhor de terno e com um urso embrulhado em um papel celofane na mão, acompanhado de um garotinho todo empacotado.
Ele se aproxima e diz:
- Moça, posso te pedir um favor?
Eu achei que ele fosse querer me vender uma rifa, ou me fazer comprar aquele ursinho horroroso. Mas não...
- Hum...
-Você pode entregar esse urso para uma pessoa ali na padaria? (A padaria gourmet cheia de gente nojenta)
- Oi???
- Sabe... Ela trabalha ali na padaria e eu não queria entregar...
- (tá se você não quer, eu muito menos) Manda ele entregar então. Apontei pro garotinho encapuzado.
- Não!!! Ele não pode entregar não, porque senão ela vai saber quem mandou...

Lembrei que eu estava com Simba e não hesitei em usar meu filho para me safar daquilo. Afinal, quem nunca? (não venham me dizer que nunca usaram filhos para se livrar de gente chata e/ou eventos monótonos.)

- Mas eu não posso entrar na padaria com o cachorro! Eu disse, abençoando a padaria por não ser  pet friendly. Coisa que metade das lojas já são.
- Ele segura para você! Apontando para o coitado do menino.

Ai eu já me preocupei. Imaginando uma máfia internacional de sequestro de labradores velhos e desastrados.

- Mas moço, ela vai estar ali no início ou eu vou ter que andar a padaria toda até no fundão para entregar?
- Olha moça, não vou mentir não. Acho que ela fica lá nos fundos, onde ficam os pães.
- Ah moço, desculpa, mas vou não!
- Pooooxa moça, por favor...
E nessa hora não passava nem uma alma, uma velha boazinha, nada.
- Ok, eu vou.
- Ah moooça, brigada, o nome dela é Shirl...
- Sheila tio! Disse o garoto, cobrindo a boca com mão como se só ele pudesse ouvir.
- Porra moço!!! Você não sabe nem o nome da mulher???
- Ai moça, eu tô nervoso!!!
Nessa hora eu achei até bonitinho... Mas disse:
- Isso não é presente de arrependimento não, né moço??? Se você aprontou eu não vou entregar não!
- Não é não moça, não é não... Vai lá Charley! vai lá com a moça para segurar o cachorro dela.
E lá fomos. Eu, Simba, Charley e o urso horroroso em direção à padaria.

Chegando lá perguntei quem era Sheila
- É aquela ali! Disse uma mulher apontando para uma outra, no caixa.
- Moça, é para você!
- Ahn brigada. (com muitos ‘n’s e ‘a’s  no fim das palavras)
- Não é meu não! O moço ali fora que mandou entregar.
E sai sem nem olhar para trás. Afinal, além de tudo eu parei a fila do caixa.
Na volta meu cão ainda estava lá. E Charley perguntou:
- O que ela disse?
- ela disse: ohn brigada.
- Só?
- Queria que ela desse também a cotação do dólar?
Ele riu, fez jóinha com as duas mãos e agradeceu sorrindo. E foi embora correndo contar para o sei lá quem.

O problema é que depois eu ia voltar para comprar pão. Mas pensei que talvez a padaria tenha duas Sheilas, afinal não é tão difícil, até o “É o Tchan” tinha... E eu tenha entregado para a errada e causado além de uma perda de dinheiro, alguma comoção entre os funcionários (vai que a Sheila que recebeu é a errada e além de tudo, casada com o manobrista do estacionamento, que estava ali, vendo tudo?).
Não quis confirmar a situação.


Fiz o bem, mas acabei comendo pão dormido.


sexta-feira, 20 de junho de 2014

Chuveiro novo

    Eu sei que não sou muito normal. Nunca fui do tipo que gosta de flores ou chocolates.
    Mas eu nunca achei que seria do tipo de pessoa que fica feliz em ganhar um chuveiro.
    Só que hoje eu descobri que sou bem desse tipinho.
    Na casa do namorado todos tomam banho frio (Sim. Banho frio. Inclusive no inverno), o que faz apenas um banheiro da casa ter chuveiro quente. E não é o banheiro perto dos quartos. É o de visitas, no andar de baixo.
    Como estou lá todo fim de semana, sempre tenho que descer para tomar banho. O que nunca me incomodou, na verdade. Em dias de muito calor, ou muita preguiça, eu até usava os banheiros do andar de cima mesmo.
    Hoje, sem nenhum motivo aparente, o namorado pergunta se eu vou tomar banho.
    Achei estranho, porque ele nunca me pergunta isso. Até me perguntei se estava fedida, porque né? Isso pode acontecer com qualquer um... Dei uma checada e estava bem cheirosinha...
    Na duvida, respondi que sim e já ia descer. E então eu descobri o porque...
    Ele me levou ao banheiro dos quartos e disse: "Presente de Dona Geralda para você..."
    E estava lá um chuveiro com inverno e verão.
    Agora não sou mais visita...
    O cunhado comprar meu guaraviton toda vez que vai ao supermercado e a sogra trocar o meu nescau sempre que ele está para acabar me dava uma ideia de que sou um pouco bem quista (ou constante demais).

...Mas o chuveiro me disse que agora eu sou parte da família.



terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Dois

São dois.
Somos dois.
Eu nunca quis achar a "minha metade", porque sempre fui inteira.
E talvez eu só precisasse encontrar alguém que, sendo inteiro como eu, também não procurasse metades.
Porque ser inteiro basta. Mas é ser apenas um.
E quando queremos ser mais, precisamos encontrar mais um.
Inteiro.
Para que possamos ser dois.
Dois.
Ainda bem que somos dois.
Ainda somos dois.
Somos dois, porque nos fizemos juntos.
E seremos muitos.

Seremos muitos anos. Mas seremos sempre dois.
Mesmo quando formos mais.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Band-Aid colorido



Andando pela rua passei por uma menininha com uns 5 band-aids coloridos espalhados pelo braço. Ela estava toda feliz em exibir os curativos e os machucados que não foram completamente cobertos por eles. Quando percebeu que eu estava olhando ficou ainda mais exibida e fez questão de verificar se eu tinha visto todos eles, passando o dedinho em cada um e olhando de volta pra mim. Eram todos coloridos e cheio de figurinhas bonitas... Achei estranho a felicidade da menininha em exibir os machucados. Mas sorri de volta para ela ficar feliz.

Depois fiquei pensando... Não é estranho. A gente desde criança exibe machucado, e talvez por isso a gente seja acostumado a ainda ficar exibindo eles por ai. Nós não cansamos de mostrar machucados e curativos a todo instante. Só que hoje a gente exibe em rede social, blog, outdoor.

Tanta gente reclama da vida, reclama do mundo, reclama da sorte, reclama do tempo...

Eu mesmo, quantos machucados eu exibo aqui?
Sempre disse que é difícil escrever felicidade.
É muito mais fácil escrever sobre aqueles relacionamentos não correspondidos, mal correspondidos ou quase correspondidos. 

A gente exibe o sapato que machuca, a calça que não cabe, o cara que não presta. E o cara que presta mas não gosta de você, o cara que presta (?) mas gosta de você e da torcida do flamengo, o cara que você gostaria que prestasse. O amigo que te traiu, a pessoa que te decepcionou.

Indiretas, fotos bonitas e frases feitas para pessoas que sequer vão ler.

A gente faz questão exibir revolta, de gritar de raiva, de dor, de ódio. De mostrar curativo em foto de balada, em mais frases feitas e em outras fotos bonitas. Até aquele arranjo de flores vergonhoso que se manda no trabalho da ex, depois da briga, pra exibir arrependimento. É brega, mas é mostrar machucado.

Gostamos de deixar aquela parte do machucado destapado, algumas vezes por orgulho da ferida. E talvez a gente não se dê conta do tanto de curativo com os quais andamos pelas ruas. 

No fim das contas, acabei percebendo que no fundo todo mundo é até hoje exatamente como a menininha.

...A única coisa que muda são os band-aids coloridos.