quarta-feira, 24 de março de 2010

Entre seis e dez.

Existem vários horários pra se passear com seu cão. Para os que gostam de socializar, é muito popular o horário entre 18 hs e 19 hs. Eu particurlamente odeio esse horário, confesso que só saio com o cão a essa hora, quando realmente tenho algo pra fazer depois, ou sei que mais tarde não vai rolar mesmo. Suspeito que alguns donos de cães comam as fezes que seus adorados fazem na rua, e acham que, só porque eu estou na mesma situação que eles - no caso, sendo arrastada pelo meu cachorro - eu OBRIGATORIAMENTE tenho que falar com eles, qualquer coisa que seja. E nem o fato de eu andar com um fone de ouvido, cantarolado mudamente as músicas e olhando pra cima observando as varandas dos prédios faz eles desistirem (eu desistiria só pelo fato de achar que um ser assim tem parafusos a menos, o que realmente tento deixar transparecer, em vão). E sou obrigada a tirar o fone do ouvido e seguir a sequência "não é bravo - macho - 6 anos - Simba - é, do Rei Leão". Pensando agora, acho que da próxima vez eu falo "comeu a mão da minha mãe ontem" e quem sabe talvez eu não precise responder as perguntas restantes.

Isso quando eu não tenho que passar um sabão num desses donos de cães-pulga-com-pêlos (tipo yorkshire, pinscher - que eu insisto em acreditar que aquilo não seja um cão e sim um rato superdesenvolvido e tals) que andam sem coleira e avançam no meu labrador covarde que só enfrenta cachorros maiores que ele e morre de medo desses cães-biscrock, que ele engoliria em 3 segundos. Eu juro que um dia dou um chute em um. Ai perco meu tempo tendo que dizer pro dono, rindo, pra não ser mau educada, que mesmo pequeno cão deve passear na coleira né? Senão um dia ainda leva um chute de alguém como eu se avançar no meu cão. E ainda tenho que ver um senhor cão de 42 anos se assanhar com qualquer rabo menor que ele, e ignorar 'cãs' grandes veementemente. Mais ainda, ignorar qualquer pessoa que fale com ele. O que geralmente acontece com os sarados que estão saindo da academia. Ele simplesmente finge que aqueles bíceps definidos não existem. É revoltante. Mas não posso reclamar, porque na maioria das vezes isso me salva e eu tenho que dizer, "tá vendo ele não tá nem ai pra ninguém, tenho que ir tchau."

Mas existe o horário dos deuses, também conhecido como depois das 22 hs. Num bairro como o meu, relativamente seguro, e com um cão como o meu, relativamente grande (ninguém sabe que ele é um merda de cão de guarda que só late de felicidade quando me vê ou pra me chamar pra sair - então, ele relativamente mete medo) é a hora perfeita pra sair. Rua vazia, paz reinando nos lares e eu, sem precisar socializar...

...na maioria das vezes.

Quarta Feira, 24 de março de 2010 às 22:12.

Estou eu cantarolando mudamente batendo o pé esperando meu cão terminar de rodar pra decidir se ali era um bom lugar ou não pra se aliviar... Vejo ao longe um ser de regatas e bermuda surfista, 2 metros de altura, meio fortinho meio magrinho, branquelo e...com um shih-tzu (ou outro qualquer bola de pelo parecido), pode me chamar de preconceituosa, mas acho estranho homens grandes e cães pequenos (e foda-se se vocês acham estranho eu com um cão que pesa o mesmo que eu, eu ainda acho estranho um homem grande com um cão pequeno). Ok, em um outro momento eu falaria "jesuiscristimduzomibrancomagrelimqueandamcomcão que cara gato, vou dar mole". Mas não as 10 da noite, numa quarta, de chinelo, ouvindo incubus, sem paciencia nenhuma em tirar o fone de ouvido e me preparando pra pegar um taco de dejeto numa sacola.
Mas logo pensei: "um ser que sai as 22 hs é porque, assim como eu, não quer muito papo."

Coisa que descobri em 3 minutos, que não poderia estar mais enganada.

Ele passou, e talvez porque meu "ufa" em pensamento tenha sido alto demais (ta era gato, mas era homem e sei la né, apesar de tudo, era mais de 22 hs e vai que ele é o maniaco do cachorrim), ele voltou.

E enquanto eu pegava a caca do meu cachorro (não existe forma melhor de se conhecer uma pessoa) ele disse, me cutucando, já que ouvir eu não ouviria mesmo (tive que tirar o fone e não existe coisa que me irrite mais que tirar o fone no meio de uma música, tá tem, mas enfim):

- eu vi que você tem mais de uma sacola, pode me dar uma?
- (não - saindo correndo) aham, tó.
- é que ele fez cocô ali na frente e eu to sem sacola, vi você catando e sabe, fiquei com vergonha.
- (deveria mesmo - ¬¬) deveria mesmo, tó. rsrs
E sai andando na direção oposta. Mas ele veio junto... Tive que tirar o fone que ja ia colocando, pq vi que não ia ter fim.
- ele fez ali antes sabe, vou voltar pra catar.
- (quer uma medalha?) hum.
- seu cão é grande né?
- (não. ele evoluiu que nem pokemon minutos antes de você aparecer) e o seu é pequeno.
- é né? tem algo errado aqui...
- (certamente. você ta falando comigo e eu não quero falar com você) não. eu gosto de cão grande.
- e eu de pequeno
- entao não tem nada errado.

Chegamos no cocô dele. Ou do cão dele. Ou do que ele pegou pra jantar... e eu acho q ele achou que eu ia ficar ali com ele dando instruções, porque não parou de falar. As perguntas básicas das respostas "6 anos - Simba - é do Rei Leão" e blablabla. Até que finalmente disse que ia pra direção oposta pq já tinha vindo por ali, e vi um fio de esperança na capacidade humana de perceber que alguem quer ficar sozinho.

- Brigado pela sacolinha.
- Magina, tudo por menos merdas no mundo. (e percebi que isso poderia ser entendido literal e metafóricamente falando - vide o primeiro post desse blog. -Esse aqui-)

Ele riu. Aposto que não leu meu blog, droga.

E fui em paz.

Na outra esquina meu cão cagou de novo. Em frente a um bar. E um cara na mesa do outro lado da rua me aplaudiu porque eu catei. Juro que ele fez menção em levantar e tudo. (me disseram depois, quando contei o fato, que foi um aplauso de merda. tive que concordar). Sério, só comigo acontece né? ah tá.

Sinceramente, acho que vou comprar um esteira pra Simba, porque passear, às vezes dói.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Nhá!

“Boas e bobas são as coisas todas que penso quando penso em você.”

Caio Fernando Abreu (mas poderia ser eu...)

quarta-feira, 10 de março de 2010

¬¬

Hoje eu realmente to um fiozinho desencapado como me disseram e eu disse que não.

O dia começa com uma cliente que insiste em ser toda fofoila falando algo que realmente eu não lembro o que era, e eu rindo concordando e pensando "se eu fechar essa porta de vidro na cara dela será que machuca?"

Depois eu vou ao banco e quando estou esperando NA FAIXA DE PEDESTRE para atravessar a rua uma mulher me para na minha frente. Eu chuto o carro e vejo que do lado dela tem uma velha assustadissima comigo. E ainda grito "GENIAL RAM". Aposto que ela foi com a velha ao banco só para poder pra furar fila a feladeumaeguaprenhasemnome.

Chego no escritório e tenho que ligar pra ex do meu irmão. Pra pedir uma calculadora que ele deu pra ela e quer de volta. "Oi fulana, meu irmao tem 9 anos e quer a calculadora de volta. bjo"

Desligo o telefone e o pc dele faz tchuuuf. queimou alguma coisa, foda-se, to nem ai pro computador dele, mas agora eu to aqui, nesse escritorio com cheiro de queimado.

Cada vez que o telefone toca eu tenho vontade de antender dizendo "vai a merda"! E juro que agora acabei de responder "queimar a fonte do computador que tem todos os documentos não estava nos meus planos" para uma pessoa que depois de eu dizer que estava sem como mandar um contrato, pediu "vê se consegue mandar hoje". E falei "aham, tá, entao você não aceita a proposta mais baixa de alguel, ok" depois que cliente desocupada terminou de me contar como o filho ficou gripado.

Pra melhorar meu nariz resolveu por si só que respirar é superestimado e resolveu variar um pouquinho. Entupiu. E o meu ouvido cansou dessa vida de ouvir absurdos e tá doendo.


Isso porque eu só queria um abraço. ¬¬

quinta-feira, 4 de março de 2010

Inquérito da Linguiça

Eu to rindo até agora.

Voltei a morar com meus pais, como vocês puderam perceber em uns posts mais antigos. Fora todo a síndrome de "puta que pariu que merda eu to fazendo" eu to me acostumando com várias outras coisas.

Mas estar aqui de novo tem suas vantagens. Fora a explícita vantagem financeira. Tem a vantagem de fazer batuque na perna enquanto seu sobrinho batuca o prato do cachorro às 2 da manhã, tem a vantagem de...Bem por enquanto a vantagem do batuque foi meio que a única que eu percebi...O que não acontece mais porque agora ele vai pra creche, e dorme em horário de criança normal (ou o mais normal que alguém da minha familia consegue ser)

Aí hoje eu resolvi fazer uma linguiça guanabara com cebola. Mas eu tenho um certo problema em cozinhar só pra mim. Eu sou tudo muito, faço tudo muito. Nem quantidade de comida eu consigo fazer mais ou menos, ou é muito ou nao é nada. Equilibrio, uma dádiva. Que não me foi dada.

Fiz, comi e sobrou, sei lá, vinte toneladas. Avisei ao meu pai. "Pai tem linguicinha com cebola, se quiser comer ta lá". Ele acenou e continuou lendo o jornal.

Minha mãe, sabe Deus porque, antes do meu pai, e antes de comer o "lanche oficial" dela (o qual, lógico, ela comeu depois, porque o estômago dela não sabe o significado da palavra fundo) foi lá e sério...Deixou 3 pedaços de cebola.

Quando meu pai foi procurar, olhou os 3 pedaços de cebola e achou que eu tava de sacanagem com ele.

A partir daí a feira se instalou na copa, o inquérito da linguiça foi um capítulo inesquecível nessa comedia chamada vida, com direito a "Marcella falou que era de papai e eu ouvi", "Você disse que não ia comer depois da novela, comeu antes porquê? Pra comer antes que ele comesse não é? Você tinha a sua comida..." e eu não conseguia parar de rir.

Facilmente resolvido comigo na cozinha DE NOVO fritando mais linguiça com cebola...e pela primeira vez na historia da culinária se viu uma cebola causar ataque de riso ao invés de choro...

Mas ápice veio depois, bem depois, coisa de 2 horas depois, minha mãe vir chorando, aos prantos: "fui la pedir desculpas pro seu paaaaai, porque comi a liguiça deeeeeele"

Simba acordou pra me ver rolar no chão de tanto rir.

Sério gente. Minha familia é genial.

terça-feira, 2 de março de 2010

Travessuras da Menina Má

"Lily gostava de ir, todos os fins de tarde, a um canto do Parque Salazar fervilhante de palmeiras, copos-de-leite e campainhas, de cujo murinho de tijolos vermelhos contemplávamos toda a baía de Lima como o capitão de um navio contempla o mar na sua torre de comando. Quando o céu estava claro, e juro que nesse verão o céu ficou o tempo todo sem uma nuvem e o sol brilhou em Miraflores sem falhar um dia, divisava-se lá no fundo, nos limites do oceano, o disco vermelho, flamejante, despedindo-se com raios e fogos de artifício enquanto se afogava nas águas do Pacífico. O rostinho de Lily se concentrava com o mesmo fervor com que comungava na missa do meio-dia na igreja do Parque Central, a vista fixa naquela bola ígnea, esperando o instante em que o mar engolisse o último raio para formular o desejo que o astro, ou Deus, materializaria. Eu também pensava num desejo, acreditando mais ou menos que se tornaria realidade. Sempre o mesmo, é claro: que ela finalmente me aceitasse, que nós começássemos a namorar, a tirar sarro, e afinal nos apaixonássemos, ficássemos noivos, casássemos e fôssemos viver em Paris, ricos e felizes."


E dai, me apaixonei. E antes de dormir, fui cercada de paraíso. Obrigada Mario. E obrigada chuva.