Ela se distraiu um pouco do filme que assistiam, pra perceber ele.
Já tinha perdido as contas de quantos tinham assistido juntos. Mas ele nunca mudou aquele jeito dele esquecer a mão na sua perna e de vez em quando acariciar com o polegar, com o jeito mais displicente de dizer o quanto a amava enquanto ria de uma cena.
Sem pensar, ela tentou ajeitar aquele cabelo que sempre insistiu em cair na cara dele e ele sempre pareceu não se incomodar. E se olharam. Ele sorriu e voltou a olhar a tela.
Ela sorriu e percebeu o quanto ele era especial. E continuou a olhar aquele homem e tentar lembrar quando de fato se apaixonou por ele. Não lembrou.
Talvez porque fosse dificil se lembrar da vida dela sem ele. E talvez o ponto logo antes dela lembrar de qualquer coisa deles, fosse exatamente o momento em que se apaixonou.
Mas não lembrou. Porque não tinha lembrança sem ele. Não que tivesse esquecido, mas simplesmente não valiam a pena de serem lembradas. E ela preferia assim, sem saber quando se apaixonou para talvez dizer que assim fora a vida inteira, o que não deixava de ser verdade.
Lembrou que, no princípio, ele doía, e não era culpa dele. Ele doía porque ela tinha medo de permitir que ele a amasse. Já tinha sofrido demais, mas quem disse que ele também não? A diferença é que ele pegou as decepções e transformou em esperanças, enquanto ela tinha construido um muro com todos os seus fracassos. Mas fracassou também em mantê-lo erguido diante de toda aquela esperança. E hoje agradecia, pelo seu fracasso mais bem sucedido.
Tinham acabado de jantar e a mesa ainda estava posta, porque ele sempre a convencia a deixar aquilo pra depois, prometendo ajudar. Coisa que nunca fazia, mas ela não se importava, pois sempre achou melhor lavar a louça enquanto ele dormia, e tê-lo ao seu lado enquanto ele estava acordado.
Ele começou a ficar inquieto e ela entendeu. Era o jeito dele pedir colo. O que ele nunca pediu de fato, mas ela sempre soube. Ela se ajeitou. E ele deitou, meio que automaticamente ainda vendo o filme e a abraçando pela cintura. Ela adorava o jeito que ele roçava a cabeça em seu peito, pra achar a posição ideal, porque bagunçava o cabelo dele, e ela tinha motivos pra fazer cafuné, fingindo pentea-lo. Não que ela precisasse de motivos, mas ela gostava de tê-los.
E acabariam dormindo ali, abraçados no chão da sala, com a televisão ligada e sem cobertor.
Então ela lembrou que essa noite a louça ia ter que esperar ele acordar, pois mesmo com ele dormindo, ela não conseguiria deixá-lo.
Já tinha perdido as contas de quantos tinham assistido juntos. Mas ele nunca mudou aquele jeito dele esquecer a mão na sua perna e de vez em quando acariciar com o polegar, com o jeito mais displicente de dizer o quanto a amava enquanto ria de uma cena.
Sem pensar, ela tentou ajeitar aquele cabelo que sempre insistiu em cair na cara dele e ele sempre pareceu não se incomodar. E se olharam. Ele sorriu e voltou a olhar a tela.
Ela sorriu e percebeu o quanto ele era especial. E continuou a olhar aquele homem e tentar lembrar quando de fato se apaixonou por ele. Não lembrou.
Talvez porque fosse dificil se lembrar da vida dela sem ele. E talvez o ponto logo antes dela lembrar de qualquer coisa deles, fosse exatamente o momento em que se apaixonou.
Mas não lembrou. Porque não tinha lembrança sem ele. Não que tivesse esquecido, mas simplesmente não valiam a pena de serem lembradas. E ela preferia assim, sem saber quando se apaixonou para talvez dizer que assim fora a vida inteira, o que não deixava de ser verdade.
Lembrou que, no princípio, ele doía, e não era culpa dele. Ele doía porque ela tinha medo de permitir que ele a amasse. Já tinha sofrido demais, mas quem disse que ele também não? A diferença é que ele pegou as decepções e transformou em esperanças, enquanto ela tinha construido um muro com todos os seus fracassos. Mas fracassou também em mantê-lo erguido diante de toda aquela esperança. E hoje agradecia, pelo seu fracasso mais bem sucedido.
Tinham acabado de jantar e a mesa ainda estava posta, porque ele sempre a convencia a deixar aquilo pra depois, prometendo ajudar. Coisa que nunca fazia, mas ela não se importava, pois sempre achou melhor lavar a louça enquanto ele dormia, e tê-lo ao seu lado enquanto ele estava acordado.
Ele começou a ficar inquieto e ela entendeu. Era o jeito dele pedir colo. O que ele nunca pediu de fato, mas ela sempre soube. Ela se ajeitou. E ele deitou, meio que automaticamente ainda vendo o filme e a abraçando pela cintura. Ela adorava o jeito que ele roçava a cabeça em seu peito, pra achar a posição ideal, porque bagunçava o cabelo dele, e ela tinha motivos pra fazer cafuné, fingindo pentea-lo. Não que ela precisasse de motivos, mas ela gostava de tê-los.
E acabariam dormindo ali, abraçados no chão da sala, com a televisão ligada e sem cobertor.
Então ela lembrou que essa noite a louça ia ter que esperar ele acordar, pois mesmo com ele dormindo, ela não conseguiria deixá-lo.