terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Primeira Grande Merda


Que eu já fiz muita merda nessa vida, não é novidade pra ninguém. Todo mundo fez, na verdade, eu só resolvi enumerar as minhas merdas mais significativas, e contar como elas aconteceram.

Nessa particularmente eu tive um parceiro no crime. Meu primo. Aquele doente. Lembram dele? Então, esse mesmo. E essa minha primeira grande merda me deu tudo o que eu precisava para a segunda grande merda (mas isso já é um outro post).

Toda a minha família sempre morou perto. E é assim até hoje. Tanto os irmãos do meu pai, quanto da minha mãe. O que sempre me frustrou um pouco, pois passar férias na casa dos tios era literalmente atravessar a rua, no máximo andar um quarteirão. E com isso imagina o fuzuê que sempre foi minha casa. Como não tinha portão, a gente nunca sabia quem estava por ali... Do tipo acordar e ver primo reclamando “pô, não tem queijo nessa casa não?” enquanto fechava a geladeira e fazia um sanduiche com Nescau, com o último copo de leite, me deixando sem café da manhã (e eu não sei ao certo dizer se isso aconteceu em 1989 ou semana passada)...

Um belo dia, todo mundo por ali, e eu e meu primo sem ter o que fazer... Meu pai tinha um fusquinha branco, que ficava estacionado na varanda. Varanda essa que é a única entrada da casa, o que fazia ele estacionar o carro um pouco torto, para as pessoas poderem passar mais confortáveis e do muro - sem portão - até a varanda tem uma pequena ladeirinha. Estou falando isso para vocês visualizarem a cena do crime.

Voltando... Eu e ele sem ter o que fazer. Não sei como, descobrimos que o carro estava sem o freio de mão puxado... Ok, a gente não fazia idéia do que era um freio de mão. Descobrimos na verdade que: “óóó a gente encostou no carro e ele andou, que massa”

E eu não sei realmente se a gente confabulou alguma coisa, ou só nos entreolhamos e começamos a empurrar. Eu só sei que tínhamos, no máximo 5 anos, e aquele fusca estava mais pesado que uma Scania. Ficamos horas a fio empurrando, empurrando e empurrando. Literalmente. Sério, foi muito demorado e cansativo. E eu não sei como não notaram, ou não sentiram nossa falta. Mas sinceramente? Se nos viram e nos subestimaram, bem feito por duvidar da nossa força. E se não perceberam nossa ausência, bem feito, por serem péssimos pais.

Ao fim de uma longa jornada de trabalho, conseguimos!!! Empurramos o carro ladeira abaixo! E ficamos realmente felizes ao terminar o trabalho de ‘empurro’ pois ia ser lindo vê-lo parar no fim da ladeira, ou no meio da rua. Estávamos pulando de felicidade, com os bracinhos pra cima e rodopiando na ponta dos pés saboreando o doce sabor da vitória, quando ouvimos um estrondo.

...Lembra que meu pai deixava ele meio torto? Pois então.

...O resultado foi que destruímos um carro... e um muro.

Eu acho que nunca na minha vida eu devo ter feito uma cara de “fudeu” mais “FUDEU” do que a que eu fiz nesse dia. Eu realmente não lembro muito bem a minha reação, mas acredito que ficamos paralizados, de bracinhos pra cima e na ponta dos pés mesmo.
Em 30 segundos apareceram 80 pessoas que não passaram por nós em mais de 1 hora. Eu não tinha sequer noção de que tinha tanta gente na minha casa...

- o que vocês fizeraaaaam meu Deeeeus????” (cara do quadro ‘O Grito’)
- a gente só empurrou. (cara de gato de botas do Shrek)

As frases a seguir vieram de várias pessoas que estavam presentes, enquanto eu repetia baixinho respondendo à todas com “a gente só empurrou, assim ó...” (e fazia o gesto com a cara de esforço inclusa. Afinal tinha dado um trabalhão)

- Só empurraraaaaaaaaaaam? Só empuraaaaaaaaaaaraaam? (Só...)
- Não é possível, alguém ajudou vocês a fazerem isso. Quem foi??? Vocês não fizeram isso sozinhos... (O tia, duvida não hein, vem querer dar os louros pra sua filha não)
- O que vocês pretendiam com isso??? (Nada...Empurrar um carro.)

Até que alguém falou uma frase que mudou toda a situação, que até então, estava bem desfavorável para nós...

- Ainda bem que não tinha um empurrando e outro puxando. Senão um dos dois estaria ou atropelado, ou entre o carro e o muro.

Sabe o que é todo mundo calar a boca em 2 segundos? Foi o que aconteceu. Porque ninguém tinha se dado conta disso. Duas crianças, um carro e um muro. A chance de alguém morrer era bem significativa.

E do “o que vocês pretendiam com isso?” começamos a ouvir “nossa você está bem?”, “machucou não?”, “ai graças a Deus que foi só o carro” (mãe é sempre otimista) “...e o muro né tia?” (mas sempre tem uma prima que quer piorar as coisas pro seu lado)

O fato é que começaram a abraçar a gente, e a falarem que não poderíamos ter feito aquilo porque a gente poderia se machucar. E levamos uma bronca fofa estilo “não pode porque machuca”. Que convenhamos é melhor do que a bronca estilo, “Você está vendo a merda você fez com o meu carro? Tá vendo a merda??? Tá vendo a merda????”.

Eu não sei quem tirou o carro de lá, não lembro do muro sendo consertado... Afinal, eu tinha 5 anos, não exijam detalhes da memória de uma criança de 5 anos. E sabendo que essa criança sou eu, fiquem felizes de eu lembrar da história... Mas eu lembro que não fiquei sequer de castigo. Afinal, eu poderia ter morrido.

E o mais importante de tudo. Aprendi uma lição. Que não foi :"nunca ouça seu primo e/ou nunca dê idéias à ele", ou: "nunca empurre um carro ladeira abaixo por simples ócio". Foi algo que aprendi para a vida (e para a proxima merda): Se for fazer uma merda, faça uma bem grande. Das de colocar sua vida em risco, ou acharem que você está em risco. Porque isso faz as pessoas ficarem tão felizes em ver que você está bem, que acabam esquecendo o que você fez. Como por exemplo, destruir só um carro...e um muro.



Praticamente Bonnie & Clyde



3 comentários:

Bianca Martins disse...

Estou aqui apavorada pensando que jamais terei novamente 15 minutos de sossego na vida. Lição ótima para os adultos. Nunca deixe sua criança com menos de 10 anos, mais de 15 minutos sem supervisão. Fora que quase tive um parto antecipado de tanto rir da descrição. E se a casa é a mesma que conheço, então a visualização do quase crime foi perfeita. Agora imaginar a sua cara de gato de botas do Shrek, é impagável.

Bjus

Ricardin disse...

Marcella você é uma figura... mas criança sempre fazem arte, juntas então?! ai que dá merda, eu me indentifiquei muito com essa "primeira grande merda" auhauhauhauhau
bjs

W disse...

Maluca.... Achei q fosse os hormônios, agora vejo q vem de berço.