quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sorrindo...


Lembrou que por um tempo ele desligava o telefone sorrindo.
Daqueles sorrisos que a senhora vendendo cocada do outro lado da rua entenderia.
Ele ainda olhava pro celular, sorrindo. Porque lembrou.
Lembrou que ela nunca dizia nada extraordinário, e a conversa sequer precisava ser longa. Ela apenas ligava pra dar bom dia, daquele jeito dela, que nunca era um bom dia. Ou boa tarde, ou boa noite...
Sempre que ele atendia o telefone ela estava gargalhando, ou gritando porque tropeçou, ou conversando com o cachorro enquanto esperava que ele dissesse alô. Porque ele era uma pessoa de "oies e alôs". Ela nunca foi.
Ele sorria, porque ela o tirava do cotidiano.
E ainda andava pela rua, ignorando o barulho do transito caótico. Porque sorria.
Lembrava que ela desde sempre fez isso. Ela o fazia sorrir quando ficava emburrada, porque ele sabia que era cena. Ou quando ela chorava ao ver qualquer filme triste, mesmo os que ela só via os quinze minutos finais.
Ela o fazia sorrir quando, ao acordar para ir trabalhar, dizia "eu vou primeiro", deixando ele dormir mais 15 minutos.
Ela sempre tentou se aninhar no seu peito, no seu abraço, na sua nuca, feito bicho que precisava de proteção. E não chegava a ser estranho. Sorriu.
Deu um sorriso largo ao lembrar das conversas infinitas, das caminhadas de mãos dadas e dos abraços de mundo inteiro.
Sorriu com pesar do quanto foi bobo em não ligar todas as vezes que teve vontade.
Ele lembrou rindo de como ela entrou em sua vida pela janela, mas criou portas para voltar e com chaves, para trancar. Ainda que fosse para se trancar pelo lado de fora.
Sorriu ao lembrar que ela se preocupava com ele, mesmo sabendo que ele era grandinho o suficiente para se proteger. Embora ela soubesse tão bem quanto ele, que ele sabia se defender do mundo, mas nunca soube se defender dele mesmo.
Tentou entender como aquela mulher que tanto tirava a sua vida do cotidiano, conseguia deixa-la ao mesmo tempo tão fincada ao chão. Não conseguiu.
Ela não tinha medo. E isso sempre o amedrontou. Porque medo era tudo o que ele tinha. Ela não tinha medo de tentar, de errar, de viver. E ele sabia que ela tinha todos os motivos para isso. Ela tinha todas as desculpas que precisava para ser aquela pessoa que tem "medo de se envolver", mas optou por simplesmente rasgar essas cartas do baralho, afinal, ela nunca soube jogar mesmo...
E talvez a coragem dela o assustasse ainda mais.
Ela perdoou os deslizes dele da mesma forma que ele perdoou os excessos dela.
Ele sorriu. Porque a amava.
E lembrou do sorriso dela. Daquele de franzir o nariz que ele tanto conhecia, gostava e ainda lembrava.
Ele sorriu quando a viu, vestida de branco, a caminho do ser feliz para sempre. E ficou feliz, porque nunca duvidou que ela faria alguém feliz para sempre. Mesmo que esse alguém não fosse ele.

Chegou em casa, abriu a porta. Não era ela que o esperava. Ele era feliz, ali, com outro alguém. Talvez ela tivesse ensinado alguma coisa para ele afinal. E teve certeza do tanto que ela aprendeu com ele, também.

O para sempre dela não era o mesmo que o dele.
Mas mesmo assim ela sempre o faria sorrir.

5 comentários:

Presto disse...

Ela perdoou os delizes dele da mesma forma que ele perdoou os excessos dela

Ja te disse, mas essa parte foi minha preferida... Acho que todo mundo se vê nesse texto, tem muito de muita coisa ai... mas mais do que tudo tem um momento que todo mundo busca, e continua na busca ao invés de somente olhar para ele. ou não. rs

Marcela Oliveira disse...

AMEI... e num é q tem um pedacinho de mim aí... e eu lembro da alegria presente nos olhos do moço, ao me ver feliz, sorrindo, de bem com a vida... e aquela alegria eu carrego no peito como uma fotografia que eterniza um momento... LINDO! xero, xero! ^^
"Talvez ela tivesse ensinado alguma coisa para ele afinal. E teve certeza do tanto que ela aprendeu com ele, também. O para sempre dela não era o mesmo que o dele. Mas mesmo assim ela sempre o faria sorrir..."

Anônimo disse...

OS NOSSOS MEDOS DE ASSUMIR OS RISCOS NOS DEIXAM VICIADOS NO DEPOIS...

Anônimo disse...

MAIS MESMO ASSIM É PRECISO PAZ PARA PODER PROSSEGUIR...

Ana disse...

"Ele sorria, porque ela o tirava do cotidiano."

Quero ser isso tudo na vida de alguém!!!!