sexta-feira, 23 de abril de 2010

Feridinha boa

Um cantinho da unha do seu dedo mínimo tinha inflamado, e agora pulsava um pouco. Tinha infeccionado, mas não incomodava, e ela nem lembrava dele, salvo as vezes que não tinha o que fazer e ia futucar pra ver se a ferida ainda tava ali, e pra checar se ao apertar ela doeria. E doía, mas parava logo que ela cansava de mexer. E sararia bem mais rapido se ela não ficasse futucando... Disso ela sabia, mas mesmo assim não conseguia não instigar aquela lesãozinha, percebendo enquanto cutucava o quanto seu dedinho era bonitinho, mesmo machucado.

Ela viu que algumas pessoas são como essas feridas, das quais a gente nem lembra a maior parte do tempo, mas às vezes puxa assunto só pra ver se ainda dói. E quando sara a gente esquece.

E se viu com uma feridinha boa, daquelas que vão sarar, mas que enquanto estão ali, dão trabalho suficiente, não para se preocupar que cure, mas de cuidar para que não piore. E nunca se lamentou por tê-las, essas todas que já teve, e essa que resolveu aparecer.

E reparou que ela sempre achou melhor não querer o seguro. Não querer a aparência, não querer só ter o que(m) mostrar, não querer o certo. Ela poderia estar agora, ao lado da pessoa segura, mantendo as aparências e se mostrando feliz, do jeito mais certo que se consegue fazer parecer.

Mas vejam só, que pena, o que ela preferia mesmo era ficar sem fôlego ao dizer alô, ruborizar ao ouvir ele dizer "sonhei com você...de novo" e arrepiar até o último fio de cabelo com um abraço. Saber dele, sem ele dizer uma palavra e sentir saudades do jeito que ele insiste em ajeitar seu cordão.

Ela gostava dessa coisa estranha de ser feliz por ser feliz, não pra mostrar que pode ser feliz. Mesmo sabendo que isso não é tudo. Mas se existe isso, ela sabe que vale a pena a paciência que ela vai precisar ter e o trabalho que é preciso para manter isso dali pra frente. Para melhorar isso e para que não seja só isso.

E por mais que nunca tenha entendido como algumas pessoas tomam certas decisões, percebeu a coisa mais simples e que encerra toda uma discussão sobre o porquê dela não entender o que algumas pessoas fazem.

E era simples. Existem pessoas, como ela, que agem com o peito. Peito de quem tem coração. E outras que agem com a cabeça, ainda que dentro dela nunca tenha havido um cérebro.

Um comentário:

Renata Schmitd disse...

se a ferida é boa, cutuque e coma a casquinha.